quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Aperitivo para Os negócios extraordinários de um certo Juca Peralta

Estou lendo Os negócios extraordinários de um certo Juca Peralta, de Sérgio Mudado, publicado pela Editora Crisálida. Leio lentamente. Quero toda a beleza do texto, a complexidade da trama e do tempo desta narrativa que me surpreende cada vez que a retomo.

Digo retomo porque (morram de inveja!) eu a vi nascendo. Por um desses mistérios do acaso, Sérgio Mudado e eu nos tornamos amigos via internet, desde que ele publicou Vassallu. Sérgio veio lançá-lo em São Paulo e algumas amigas livreiras me convidaram. Eu fui, comprei, pedi autógrafo e devorei o livro. Em seguida mandei um e-mail para ele – que me deu seu endereço – com um comentário sobre o livro. Dali em diante nos correspondemos sempre e, quando estava começando a escrever “Juca Peralta”, mandou-me alguns capítulos. Foi, uma vez mais, um susto, mas um susto muito maior do que o do Vassallu. Não porque se possa comparar um ao outro, mas porque a literatura de Sergio Mudado tinha se tornado mais audaciosa, tanto no tema quanto em seu tratamento. Uma história que poderia ser banal, era, nas mãos e na mente de Mudado, uma imensa aventura. E não estava distante no tempo (as Cruzada) ou no espaço (o Oriente Médio), como em Vassallu. Estava agora bem próxima, ali mesmo na curva da história do Brasil onde o trem apita, por assim dizer. Era contemporânea e, se não era conhecida, é culpa da imensa ignorância que teimamos em manter sobre nossa própria história.

A estrutura narrativa da obra era surpreendente e o tempo deixara de ser linear. A história ia e vinha no tempo enlouquecido da narrativa e comentários de seus personagens. Sergio Mudado ia tecendo, capítulo a capítulo, um tapete de fatos e vivências dos personagens. O tecido era feito da magia e do sonho que está no ato mesmo de criar. Enquanto construía esse tecido colorido e complexo, eu o acompanhava à distância. Quando o releio agora, já plasmado em livro, com uma capa linda e uma edição cuidada, levo novos sustos. Já não é o mesmo texto; a historia está mais rica; as paisagens, mais vivas; os personagens revelam novos traços e nuances. Como foi que eu não vi antes? Isto é parte da magia de Os negócios extraordinários de um certo Juca Peralta.

Logo trago uma resenha – que jamais fará justiça à obra – apenas para que possamos pensar juntos. Antes disso, vão lendo, vão lendo...

Edith Piza – SP 23/11/2010

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