terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tagore: o giz da tirania e o caminho para a criação


Por acaso, já ouviram falar no círculo de giz do poeta indiano Rabindranath Tagore, o primeiro não-europeu a conquistar, em 1913, o Nobel de Literatura?
Vou contar para os que não sabem do que se trata.
O pequeno Rabindranath foi cuidado, na maior parte do tempo, por criados, uma vez que sua mãe morreu quando ele tinha poucos anos de vida e seu pai viajava muito.
Ora, para simplificar o trabalho de tomar conta de Tagore, o criado mandrião riscava em torno do menino um círculo de giz, ameaçando-o com os maiores perigos se ele ousasse transpor o risco. Intimidado e obediente, o garoto permanecia ali por horas sonhando e vendo o inacessível Lá Fora, que tinha cheiros e sons, rasgos de verde e água, vislumbres percebidos além da casa.
Riscos de giz da tirania, assim Tagore se referiu ao círculo que o prendia... No entanto, os riscos, o impedindo de sair, acabaram por impeli-lo, numa tenra idade de sua vida, a caminhar para dentro. E tendo percorrido este trajeto interior, sentiu-se um dia livre do fardo amargo do eu para então perceber que o mundo visto por observador sem amarras não se constituía de uma trivialidade aparente e sim de um jorro de beleza e luz para os olhos, para a alma...

3 comentários:

  1. Dois livros do Tagore me prendem a atenção. Um, Lua Crescente, na tradução de Abgard Renault (uma vez enviei uma cópia para vc, Sérgio, lembra-se?); outro, O Casamento e Outros Contos. Como um homem pode ter tanta sensibilidade para escrever sob o olhar de uma criança ou de uma mulher? Colocar-se no lugar do outro, com a subjetividade do outro, é ato de profunda sensibilidade. É o que ocorre com seu livro, Uma Vez Ontem.

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  2. Adriana Gragnani escreveu:
    "Chegaremos de mãos dadas/cantando canções de roda./E então nossa vida toda/ será das coisas amadas."
    Cançãozinha para Tagore - Cecilia Meirelles"

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  3. Brouzinha, pensei que você estava tendo dificuldade em comentar com os versos de Cecília Meirelles. O que fiz? Colei e eu mesmo postei, usando "conta google", exigida no momento da postagem. Ou seja, eu mesmo tenho dificuldade em postar comentários. Então, do nada, surge o comentário acima. Sim, você me apresentou o Tagore e também o espanhol Juan Ramón Jiménez Mantecón, criador do Platero, aquele burrinho feito de aço de luar. E me emociona ao se referir sobre o Uma vez ontem, no fundo, o texto que mais gosto. Puamerda.

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